Um a um, os participantes que chegavam ao auditório da Oncologia Centenário, na tarde desta segunda-feira, dia 23, eram acolhidos com um caloroso abraço. A recepção dos voluntários da ONG Ser Paz – Serviços de Paz, embalada pelas melodias dos músicos da Escola de Música Luarte, dava serenidade e encorajamento para o momento seguinte, o debate proposto pelo Hospital Centenário e pela Secretaria de Políticas para Mulheres (Sepom) sobre a violência contra as mulheres.
Com a presença da vice-prefeita Paulete Souto, da vereadora Ana Affonso representando a Câmara de Vereadores, e da secretária de Políticas para Mulheres, Danusa Alhandra Silva, a presidenta do Hospital, Quelen da Silva, deu boas-vindas à plateia que lotou o auditório para assistir à palestra “Grupos no Enfrentamento à Violência contra a Mulher”, com a especialista em saúde coletiva, vigilância em saúde, vulnerabilidades, gênero e violências, e professora da UFGRS, Stela Meneghel.
A palestrante traçou uma linha de tempo, iniciando sua explanação pela primeira onda feminista, no século 19, até o Brasil dos dias atuais, onde mais de 20 mil mulheres são assassinadas por ano, destas, aproximadamente 150 no Rio Grande do Sul. Stela abordou os principais fatores de risco e vulnerabilidade que levam ao feminicídio, termo que caracteriza o assassinato de mulheres pelo fato de serem mulheres: histórico de violências e ameaças de morte; tentativas prévias da mulher em obter a separação; locais de pobreza, instabilidade social, população negra, desemprego e altas taxas de crimes violentos; desigualdades de gênero, masculinidade agressiva e machista; mulheres jovens; migrantes, sem redes e sem domínio da língua, trabalhos precários. Elas são, em maioria, jovens, negras, solteiras e com baixa escolaridade
Mas, para quem tem a vida por um fio, também é possível a esperança, se houver ações concretas. Neste sentido, Stela relatou sua experiência em trabalhos com grupos que se propõem a enfrentar a violência contra as mulheres. São espaços, segundo ela, onde são construídas estratégias de enfrentamento das violências. “Uma tarefa complexa, demorada, artesanal e com resultados modestos”, admite. Porém, é onde ocorre o rompimento com o modelo biomédico medicalizador, através da aposta em em práticas de promoção da saúde. “Trabalhamos com intervenções psicossociais e oficinas inspiradas na pesquisa/ação. Usamos a arte, as narrativas, as histórias de vida das mulheres, histórias dos mitos africanos, do folclore universal, poesias, textos inventados pelos oficineiros, músicas, cantos, danças, dramatizações, pinturas, confecção de objetos, rituais. Observamos, mudamos e avaliamos durante todo o processo”, acrescentou.
“Música: Uma Construção de Gênero”
Até a próxima sexta-feira, dia 27, trabalhadores e usuários do Hospital Centenário poderão visitar a exposição Música: Uma Construção de Gênero, que estará no saguão da Instituição. A exposição teve início com uma campanha no Facebook, que começou pouco antes do mês de março, fazendo a chamada para o Seminário de abertura do Mês da Mulher, ocorrido no dia 1 de março. A ideia das fotos surgiu com a polêmica da música “Surubinha de Leve” que tomou conta das redes em janeiro. Com isso um dúvida pairou na Sepom: será que são só as letras de funk que incitam a violência contra a mulher? Pelo conhecimento da equipe, percebeu-se que não, o machismo e a misoginia estão presentes em toda a música brasileira.
Com o objetivo de promover a reflexão sobre assunto, a secretária de Políticas para Mulheres, Danusa Alhandra Silva, teve a ideia de chamar mulheres da comunidade leopoldense para fazer fotos expondo trechos de músicas que incitem a violência contra mulher. Aos poucos, as mulheres se interessaram e as fotos foram feitas. Desde a primeira foto postada, com a letra da música “Ajoelha e chora”, a campanha causou polêmica. Mas foi no dia 8 de março que a campanha viralizou nas redes.
No dia 10 de março, já tinha atingido mais de 50 mil compartilhamentos na página Professora Problematizadora. Grandes mídias, como BBC Brasil, Estadão, G1, noticiaram a campanha que estava exposta no saguão da prefeitura. “O grande objetivo era promover reflexão e debate sobre a naturalização da violência contra a mulher na música brasileira. Considerando as proporções que a campanha tomou, a meta foi plenamente alcançada”, explica Danusa.
[Jornalista Ana Garske | MTb 8443 | Fotos: Felipe dos Santos Barboza| Fundação Hospital Centenário